quarta-feira, 26 de novembro de 2008

É no caminho e não no final do trajeto que deve estar o foco


Que viver é tudo aquilo que fizemos enquanto planejamos outras coisas todos já sabem. Jonh lennon é o autor dessa frase seca, simples e real. Cito ela porque muitas pessoas fazem seu planejamento focando apenas o final, a conquista, o destino, não o durante, o trajeto. O viver está no durante, no caminhar. O espaço entre o início do planejamento até a conquista é o que vale. Vamos lá, deixa eu exemplificar. Você se planeja para ir de Criciúma a Blumenau passar o final de semana. Esse é o planejamento para o sábado e domingo. Você vai dirigindo e escuta no rádio que em Imbituba as Baleias Francas estão próximas da costa. Muitos param e entram para ver as baleias, viver aquele momento, e depois seguem viagem, muitos não, porque o foco é Blumenau então. Essa é a meta. Que sem graça se as coisas fossem assim, matematicamente calculadas.

Faço essa introdução porque consigo perceber nos pequenos atos a felicidade, o contentamento, o viver. Óbvio que gosto de um bom carro, do conforto da minha casa, de ir a bons restaurantes com os amigos, de tomar um bom vinho, escutar uma boa música, conhecer lugares. Mas também consigo tomar uma cachaça no bar da esquina com um desconhecido, comer o ovo frito com o arroz e farofa que a Solange prepara, que é uma delícia, e de jogar mora com os mais velhos. Isso mesmo. Ontem, na comunidade onde moramos, em Treviso, houve uma rodada de camarão, siri, peixes fritos e ensopados, pirão, cação desfiado. Os pratos estavam deliciosos. Mas o que gostei mesmo foi de jogar mora. Esse pequeno ato serviu para muitas coisas, entre elas, pela primeira vez praticar um jogo trazido pelos colonizadores italianos, rir muito com os parceiros 40 anos mais velhos que eu e lembrar de meu falecido nono Armele que, segundo meu pai, era um grande jogador. O foco da noite era a janta, mas tive no jogo de mora um momento que não vou esquecer tão cedo.

Acredito, defendo e vivo dessa forma. Tenho certeza que é no caminho e não no final, no foco, na conquista, que está a felicidade, mas sim, no seu trajeto. Quem não entrar em Imbituba não vai ver as baleias Francas, mas vai chegar em Blumenau da mesma forma. Assim acredito ser a vida. Quem não conseguir ver nos pequenos atos a felicidade vai seguir em frente, mesmo assim. O jogo de mora foi uma coisa simples, mas seu momento foi vivido intensamente. O mesmo acontece na pescaria com o filho, na discussão de um texto para o cliente no trabalho, no barzinho com os amigos. É isso a vida é tudo aquilo que acontece enquanto planejamos outras coisas.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

“Agola eu papai”


Se há uma coisa que não tem como vencer é o sorriso de uma criança. Nada consegue derrotar essa arma facial que essas pequenas criaturas possuem. É infalível e contamina até os mais frios dos corações. Falo isso, por que, por duas vezes, fui tentar trabalhar no sítio com martelo e nosso filho Raoni, de dois anos e um mês, não deixou. Pelo menos não na velocidade que eu pretendia. A primeira vez foi na produção da cerca do quintal para evitar que os três ex-patos (fugiram rio abaixo) invadissem o quintal feito por Solange. A segunda vez, foi na colocação de uma pequena porteira no deck para evitar que os dois cachorros, Tonto e Largada (nome dado pois ela foi deixada no sítio por alguém), subissem e evitar que Raoni descesse sozinho ao rio.


Nas duas oportunidades era bater o primeiro prego e lá vinha Raoni com aquele sorriso lindo dizendo: “Agola eu papai, agola eu”. Pronto, pegava o martelo de minha mão e batata. Para ajudá-lo eu colocava um pouco o prego na madeira e ele tentava pregar o resto. Foi assim na cerca do quintal e na porteira do deck. É lógico que o serviço não rendia nada, mas observar ele, com o martelo na mão, acertando o prego e com uma expressão facial de um pequeno trabalhador fazendo força, recompensou muito mais. Poderia ter colocado um DVD de um desenho animado ou mesmo pedir para a Solange cuidar dele para eu terminar o trabalho, mas vê-lo sorrindo e a cada prego que eu colocava ouvir ele, sorridente, dizer “agola eu papai, agola eu”, faz parte desta fase gostosa que estamos curtindo com ele. Isso não é sinal de paciência. É sinal de aproveitar o momento, a fase. Quero evitar chegar daqui há dez anos e dizer: “Nossa Raoni já está com 12 anos e eu não curti o seu desenvolvimento”. Defendo que os pais se atenham a essas pequenas coisas, até bobas para uns, mas que sentiremos falta logo ali na frente.